



O SURGIMENTO DE PERNAMBUÉS
Até 1763 Salvador era a capital mais importante do Brasil e a segunda maior dentro do Império Lusitano, atrás apenas de Lisboa sendo o principal elo entre Portugal, o Sul da África e o litoral da Ásia. Diante dessa ligação, em 1870, o porto da Baía de Todos os Santos era mais movimentado do país devido a intensa exportação e comercialização de produtos como cana-de-açúcar, fumo, pau-brasil, laranja, entre outros.
A partir desse cenário se dar o povoamento do chamado miolo da cidade, surge então o bairro do Cabula. Região que serviu de esconderijo para negros escravizados, formando o quilombo do Cabula. No entanto, as terras quilombolas dessa região foram retomadas e vendidas pelo governo da província para membros da aristocracia baiana, contexto que segundo os escritos de Cid Teixeira (1978) explica o fato dessa região passar ser lugar de fazenda e chácaras, uma delas sendo apontada como propriedade da Condessa de Pedrosa.
Como responsáveis pela socialização do lugar, é possível apontar os povos bantus, oriundos do Congo e Angola, como autores do nome do lugar: Cabula.
Antigamente, a área denominada Cabula era imensa, começava na parte baixa, subindo a ladeira (Ladeira do Cabula), atingindo o Largo do Cabula e os vários caminhos que ligavam o Cabula. [...] ‘O termo Cabula vem do quicongo Kabula, que, além de ser verbo, é nome próprio personativo feminino e também nome de ritmo religioso, frequentíssimo naquela área, onde suas matas eram utilizadas pelos sacerdotes quicongos [...]’. [...] ‘ Também era área de povos Congo e Angola e parte baixa do Cabula se estendia até o local ainda hoje chamado Ladeira do Bozó, cujo nome vem do quicongo mbóozo (significando feitiço, bruxaria) ’. A rua tomou esse nome em virtude de ali haver um gigantesco pé de iroko, onde arriam seus bozós ou ebó para os negros de procedência nagô-iorubá. (REGO,1954)
Entre os fins do século XIX e a primeira metade do século XX, as fazendas se desenvolvem, dentre elas a mais importante era a chamada Santa Clara, que cultivava laranja. Porém, entre 1940 e 1950 uma praga destruiu os laranjais, situação que provocou o loteamento e venda parcelas das fazendas. Os lotes vendidos formaram novos bairros dando origem à um grande complexo de comunidades, tais como: São Gonçalo, Engomadeira, Mata Escura, Narandiba, Tancredo Neves, Pernambués, Saboeiro, Imbui.
Momento onde em 1956, os quilombolas retomaram as terras e deram origem ao bairro de Pernambués, nome de origem indígena, cujo significado é “mar feito a parte” ou “tanque de água”.
O bairro que foi historicamente território fundado pelos quilombolas do Cabula, possui ligações importantes como as avenidas Paralela e a ACM, se fazendo vizinha do que atualmente é considerado central, pois fica a margem da Avenida Luís Eduardo Magalhães. Via que foi aberta entre o antigo Jóquei de Salvador e grandes fazendas o que colocou Pernambués para o lado oposto dos bairros de classe média-alta, dando ao bairro o status de “primo-pobre” dos bairros que tiveram sua expansão no mesmo período.
Até a década de 70, Pernambués ainda se mantinha com uma estrutura social semelhante a uma dinâmica de organização africana, isso podia ser percebido na maneira como os líderes e associações comunitárias tentavam e ainda tentam coordenar o bairro, algo que se perdeu na década de 80, com a construção do Shopping Iguatemi e da Estação Rodoviária, quando uma nova dinâmica social se formou.
É possível atribuir seus marcos geográficos como: o Cabula, ao norte; à Avenida Paralela, ao sul; à Avenida Luís Eduardo Magalhães e a área Federal do 19° Batalhão de Caçadores, ao leste; e a comunidade de Saramandaia e a Estação Rodoviária da cidade, à oeste.
Dentro do bairro, destacam-se a Rua Thomaz Gonzaga que corta todo o bairro, nela podemos encontrar pontos comerciais e casas residenciais, a Rua Conde Pereira Carneiro – antiga Chácara Perseverança, onde estão localizadas duas grandes rádios de Salvador e a 1° Companhia Independente da Policia Militar, e também, a Avenida Hilda que é transversal a Rua Thomaz Gonzaga, e sendo uma espécie de atalho que leva os moradores diretamente a LIP (Ligação Iguatemi-Paralela). Outra rua que faz parte da história da urbanização do bairro, é a Conde Pereira Carneiro, na Praça Arthur Lago, a principal de Pernambués, que atualmente abriga vendedores ambulantes, moto-taxistas e serve como ponto de encontro de aposentados e pequenos comerciantes que se unem para o o jogo de baralho à sombra de uma amendoeira.
Pernambués ao longo da sua história foi marcado pelo contraste polêmico, onde podemos encontrar casas de luxo com piscina e jardins, e apartamentos, que dão ao chamado Jardim Brasília o ar de um bairro de classe A. Já ao caminhar em sentido ao fim de linha apertado, que frequentemente trava a circulação de veículos devido ao trânsito intenso, o bairro vai se popularizando com invasões e baixadas, como Baixa do Manu, Cruzeiro e Baixa do Tubo.
Hoje, Pernambués encontra-se numa localização estratégica, próximo de shoppings como: da Bahia, Salvador e Bela Vista, mas recentemente das estações do metrô. Apesar disto, o bairro sofre com o acesso fragilizado de alguns serviços e consumo, o que leva os moradores buscarem lojas e atendimentos fora do bairro. No entanto, em meio as dualidades presentes no bairro que compõem o miolo de salvador, Pernambués acolhe vários centros comunitários, como a Associação Beneficente 10 de Julho, o Grupo Alerta Pernambués e o Centro Social Urbano, que agrega posto de saúde, creche, pré-escola, conselho tutelar.
Os moradores do bairro compartilham de uma espécie de satisfação em fazer parte de um bairro que se localiza próximo ao centro e apesar disso procura manter em sua dinâmica cotidiana a tranquilidade, que não resiste nos centros urbanos.